Freud começa o texto
discutindo possíveis definições para o que seria sexual no ser humano. No
entanto, logo chega à conclusão de que o que habitualmente se chama de sexual
(prazer do corpo, principalmente através dos órgãos sexuais, e que, em última
instância, busca a união com os órgãos genitais do sexo oposto) não é
suficiente para explicar outros comportamentos claramente sexuais como o
contato homossexual, a masturbação, o fetichismo, entre outras manifestações
desviantes que Freud inicialmente chama de perversões.
Freud dividiu este
grupo (pervertidos) entre aqueles em que o objeto sexual foi modificado e
aqueles em que a finalidade sexual foi modificada. No primeiro grupo,
encontramos aqueles que renunciaram a união dos dois genitais e que usam como
fonte de prazer outra parte do corpo ou objetos específicos, por exemplo, peças
de roupas (fetichistas). O segundo grupo de pervertidos é formado por aquelas
pessoas que utilizam essas outras partes do corpo (ou objetos específicos)
apenas no ato inicial ou preparatório do ato sexual para sentir prazer. Freud
está falando de pessoas que sentem prazer em olhar outras pessoas, palpá-las,
ou espiá-las durante os atos íntimos (atos iniciais preparatórios da cópula),
sem que isto implique em uma posterior união dos genitais. Neste grupo é onde
se encontra os chamados sádicos, que sentem satisfação em causar sofrimento aos
seus objetos.
Em meio à descrição
das perversões Freud justifica o aprofundamento neste tema alegando que é
preciso dar uma explicação sobre como essas perversões estão conectadas com
aquilo que descrevemos como sexualidade normal. Para ele, uma melhor
compreensão das perversões viabilizaria uma melhor compreensão da sexualidade
normal, uma vez que ambas partem de
pressupostos que, do ponto de vista da organização, guardam uma certa
semelhança
Freud nos faz
relembrar que os sintomas neuróticos são substitutos da satisfação sexual e que
na neurose histérica os sintomas podem ocorrer em qualquer órgão. Nos sintomas
histéricos os órgãos metaforicamente substituídos pelos genitais são justamente
aqueles que não possuem significação sexual. Freud, então, nos faz pensar que
se para algumas pessoas existe uma dificuldade em obter uma satisfação sexual
normal que as leva a inclinações pervertidas e que nada igual havia ocorrido
antes, então suponhamos que nessas pessoas já se encontrava rastros das
perversões, ou seja, as perversões já estavam presentes nessas pessoas de forma
latente.
Isto, juntamente com
a observação de crianças e a análise de adultos neuróticos, levou Freud a
concluir que a perversão possuía suas origens na infância, de modo que toda
criança demonstra uma pré-disposição à perversão. Para Freud, a perversão
adulta não é nada mais do que “uma sexualidade infantil cindida em seus
impulsos separados".
Além
disso, Freud ressalta no texto, que, do ponto de vista da organização, a
homossexualidade não é uma perversão. De acordo com o autor, há impulsos
homossexuais nos neuróticos. Sendo assim, a questão da homossexualidade aparece
apenas como uma inversão do objeto e não como uma organização perversa. A homossexualidade, desta forma, pode
aparecer em qualquer organização. O autor traz, no texto, exemplos de histeria
e de paranoia relativos a tal questão.
O
que se impõe aqui é, então, que a sexualidade vai muito além da função
reprodutiva.
Os senhores cometem o erro de confundir
sexualidade com reprodução, o que lhes barra o caminho para o entedimento da
sexualidade, das perversões e das neuroses. (FREUD, 1917.) Para dar conta do citado anteriormente, as
teorizações psicanalíticas acerca da temática partem da sexualidade infantil. E
do conceito de “libido”, que é a energia
sexual - e se manifesta através da pulsão.
O
pai da psicanálise afirma que os primeiros impulsos sexuais de uma criança tem seu
aparecimento ligado com as funções vitais. Como, por exemplo, a satisfação
depois do bebê amamentar no seio materno e posteriormente ao repetir o ato sem
ao menos estar com fome, só que usando do seu próprio corpo, ou seja, sugando o
dedo ou a língua. O autor descreve este
ato como sucção sensual e de zonas erógenas as partes do corpo (boca e lábio)
como locais de excitação. Com isto podemos concluir que os bebês
executam ações com o propósito de obter prazer.
Ao analisarmos o fato
de que uma criança possui sexualidade, Freud demonstra que a sexualidade infantil é do tipo pervertido. Para o autor, há nesta fase da vida, a perversão
polimorfa. Ele parte, para fazer tal
afirmação, de que as crianças são desprovidas daquilo que transforma a
sexualidade em função reprodutiva. Sendo assim,
é importante ressaltar que o abandono da função reprodutiva e a
permanência da obtenção de prazer é o aspecto comum de todas as perversões. Por outro lado, é característica comum a todas as
perversões o fato de elas terem renunciado à meta de reprodução. (FREUD, 1916.)
A questão que se impõe aqui, então, é que a sexualidade infantil não é barrada
pela castração. Ou seja, a criança não remete os seus comportamentos sexuais a
questão da lei, como na neurose.
É
importante diferenciar, diante das informações apresentadas, que a
característica primordial das perversões vai ser o fetichismo, ou seja, a
substituição de um objeto (que aqui o autor classifica como função reprodutiva)
por outro. Isso não torna, os
comportamentos sexuais que estão para além da reprodução, como perversos, como
o próprio autor cita e já foi dito no parágrafo anterior. A sexualidade vai
além da função reprodutiva e os comportamentos sexuais também. Trata-se, aqui,
de pensar em um outro ângulo e de analisar caso a caso.
Retomando as investigações sexuais da criança, Freud
destaca que a observação acerca da atividade sexual
de uma criança pode começar antes dos 3
anos. Primeiro, o autor traz o exemplo dos
meninos. Quando um destes
descobre que as mulheres não tem pênis, ele supõe que um dia elas
tiveram, mas que esse caiu ou foi cortado. Mais tarde, amedronta-se com tal
possibilidade e qualquer ameaça feita sobre seu órgão genital gera um
retraimento nele. O menino, então, entra no complexo de castração, que está
diretamente relacionado a saída do complexo de Édipo e, consequentemente, na
organização psíquica da criança, pois é o que posteriormente implicará em um posicionamento diante do desejo da mãe e nas questões posteriores relativas ao final do
Édipo.
No
caso das meninas, elas invejam os meninos por não possuírem um pênis e
desenvolvem assim o desejo de ter um pênis. De acordo com o autor, este fenômeno se desdobra em um desejo de ser
homem, o que pode transcorrer em problemas relativos ao papel feminino na idade
adulta, na neurose.
Freud
traz a questão de que o interessante sexual das crianças está primordialmente
ligado ao fato de querer saber de onde elas vêm. Diante disso, as mesmas, em
diferentes idade, apresentam hipóteses diferentes acerca do fenômeno. O autor
traz exemplo para dar uma finalização ao
texto que visou demonstrar que a sexualidade na psicanálise tem uma amplitude
para além do senso comum, mas que no entanto, não perde a sua associação com a
questão fenômica apresentada no termo. Tratou-se, assim, neste texto, de
observar de um “para além”, que não perdeu o seu rigor conceitual.
Revisado por Antônio
Alberto Almeida e Aline Marcelino da Equipe de Monitores
de Psicanálise do Curso de Psicologia da PUC/SP.